Move-se por entre os corpos
Ela anda por ai
Em liberdade
Contudo não a posso amar
Amando-a vou
Amada amo-te
Estes dias estão nas páginas que escrevo
A esperança e o medo
Encontro-os num sentido unico
Sobrevive a exaltação da dor
Com a doçura desses lábios
Carne mais que carne do que carne
Acorda o meu espirito atento
E beija-me…
Pensa por ele e consome-me
Procura-me…
Satisfaz então essa denúncia de prazer

Jamais sei se respiro,
Nem sequer sei se escrevo
Abate-se em mim algo que não compreendo
Tornei-me neste homem que dialogou com as palavras
Li inúmeras vezes a minha alma
Espelhada nestes papéis
Nesta tinta
Neste caderno de poemas ou prosas
Reli toda a minha existência
Contudo não lhe consigo dar o devido apreço
Nem sequer a compreendo
Não faço ideia do que ela é
Nem do que sinto por ela
Ando á deriva
Desculpem-me meus amigos
Mas este é o derradeiro texto, poema ou prosa
Estou cansado de viver este jogo
Deito-me com as palavras e acordo sem elas
Vivo então dentro delas…
Amargas e frias
Tristes…
Não sei se continuarei a escrever aqui
Nestes sentidos…
Sou louco demais para não descrever esta vida
Também sei que procuro aqui
As palavras da minha alma
Nunca encontrei em outro recanto senão nestas folhas
Manchadas de suor, lágrimas e tinta
Nada então é mais poderoso
Do que o doce sentido de estar vivo
E acreditem falo de puro sentido
Sento-me então uma vez mais nesta mesa
Sozinho…
No meu mundo
Como que num retiro espiritual intenso
E deixo a minha mão mover-se por entre o papel seco
Áspero e frio
E dou comigo a escrever este relato nocturno

Sou as terras
As pedras
As portas
Sou a madrugada
Sou um touro
Sou todas as palavras
A tinta
As imagens
Sou todo o mar
Sou a Lua
Sou paz
Sou então livre
Sou eu
Sou a calçada
As ruas e o campo
Sou eu assim
Sou todos os homens
Um espírito aberto
Sou todas as mulheres
Todos os pensamentos
Sou as velas içadas ao vento
Os barcos
A inércia da saudade
Sou eu a cada dia
Assaltado pela vida

Não voltaremos a encontrar-nos
Não pela antiga noite…
Por onde vagueámos
Somos sombras ou espectros da madrugada
Separados pela agonia do tempo
Não falaremos senão por sinais
Uma telepatia intelectual…
Será que a lua ainda continua no mesmo palco
Ou atingimos a intensidade da tristeza
E espera-nos uma sentença moral
Que nos projecta para o caos do silêncio
Essa Lua trepou o infinito da minha alma
E seguiu por um caminho incerto
Procuro assim um coração despojado
Neste mundo obscuro…
Não voltaremos a cruzar-nos
Neste lugar ermo e lúgubre
Onde a solidão alcança por vezes
Uma magia letal
Que ofusca o próprio sentimento
Não voltaremos a juntar-nos
Para seguir esta estrada velha