Andamos diferentes…
Com medo…
Gostamos de construir as nossas paredes de ferro
Para não termos o trabalho de olhar para dentro
Andamos nulos…
Já cá estamos e navegamos…
Não existe nenhum outro lugar para onde ir
Sem destino parte-se
E deixa-se de sentir
Talvez esconder o que está perto
Arranjar espaço para o que está longe
Andamos diferentes…
Sem sentido…

Pensei fazer um poema
Mas… não sou poeta
E jamais quero ser catalogado como tal
Decidi então deixar algumas palavras
Mais algumas…
Não escrevo poemas
Descrevo-me apenas…
E nada mais do que a descrição
Que neste momento tenho do que sinto
È, que todos os seres de todas as formas
De todos os mundos
Sejam felizes…
È o meu voto sincero nesta época
Neste tempo…
Mas é-o também em todos os tempos
No entretanto, existe uma pequena diferença
A receptividade dos nossos pensamentos
Está mais aberta nestes dias…
E quem sabe sejamos mesmo todos felizes
Ao menos por breves momentos…

Sombra a sombra
Alcanço o limiar da minha ausência
Desesperadamente louco
E ansiosamente teu
Flutuo num pântano de miragens incolores
Deixo-me levar pelo murmúrio das palavras
Alcanço o meu norte…
Sigo sul depois…
Parto para longe
Sombra a sombra
Passo a passo
Sigo sem destino o meu caminho
Longe do mundo
Perto de mim
Ausente do meu sentir
Consciente do meu viver
Sigo longe

Por demasiado tempo
Existiram segredos na minha mente
Algo que deveria ter dito
Sentei-me aqui…
Com uma estranha aos meus olhos
Sozinho com os meus pensamentos
Ainda nostálgico… Perpassei nos locais de outrora
As lágrimas que não pude chorar
Não tenho controle sobre mim…
Tenho medo…
Escorrego e atiro-me
Liberto-me…
Escorrego novamente
E levantam-me…
Diz-me então que pensamentos te talharam
Por onde passaste e por quem choras
Tudo o que somos é pó ao vento
Então envia-me um anjo…
Daqueles que não te abandonam
E deixa-me sonhar novamente
Diz-me com quem falaste
Quem te fez chorar…
Mas volta para a luz
O vento que sopra na tua cara
São os anos que vão passando
Um sinal do teu coração
A repetir que estás cansada
Fecha os olhos e deixa-te levar…
Não troques a amizade pela solidão
Já lá estive…

Tanto que foi deixado para escrever
Que já nem me quero sentir
Preservo o momento de jamais aqui estar
E deixo-me levar pelo tempo que passa
Deixei um relógio no chão
Talvez tenha abandonado o tempo
E se o abandonei…
Já nem me lembro dele
Esse tempo… que se desfaz
E anula toda a existência dos momentos
Nem sequer sinto as minhas rugas
Já nem as quero ter
Culpa do tempo…
Sempre o tempo…
Irreal mas infinitamente conciso!
Tantas palavras que deixei de escrever
Para dar gosto ao tempo
Tempo esse…
Que quis saboreá-lo com algum tempo…
Que perdi tempo

Posso tentar escrever hoje
Nem assim haveriam palavras
Para descrever a minha alma
Hoje não quero sonhar…
Nem quero sentir-me ausente
Nada de vale a minha voz
Hoje nem quero estar aqui…
Nem sei onde me esconder
Vou fugir da minha sombra
E procurar um abrigo
Cortar as minhas asas
Para ficar longe do céu
Mais perto do mar
Nem quero já escrever…
Só ficar por perto…

Dói-me a cabeça do mundo
Universo incerto alucinado
Fugi da estrada onde outrora descansei
Cor púrpura e amargo sapore…
O meu corpo jaz desfeito na sombra
Deste êxtase de sentimentos inoportunos
Deixei-me adormecer neste canto do mundo
Então… Já nem sei acordar
Ocultei-me outrora no reflexo da madrugada
Elevei-me na imensidão dos pensamentos
E cai de novo…
Sento-me aqui uma vez mais ausente
Sem caminho por onde passar
Deixo a minha presença moribunda
No canto deste lugar
Parto talvez para outra estação
Ah… dói-me tanto a cabeça
Sem sentido e sem chegada marcada
Parto por entre a minha campa camuflada
Pela sombra da minha presença aniquilada
Deixo-me sentir na madrugada
Ah…. Dói-me a cabeça do mundo…
E as pernas do meu Universo
Dói-me o corpo dela que não conheço
E o meu sorriso que deixei de ter
Dói-me o mundo todo no meu pensamento
A consciência do meu viver
E a esperança do meu etéreo e fraco momento