Quem sou eu?
Para decidir escrever
A alegria do tormento
Eu que me revolto…
E me puxo para fora
Eu que me retiro para o nada
Onde não existem anjos
Eu que me desencontro e me encontro
Afinal quem sou eu para ser eu?
Quantas vezes falei
Quantas para mim eu ouvi
Eu sou o maior silêncio da noite
Desde então sou este eu
Que emerge do nada
E se torna neste homem menino
Posso escrever todas as palavras
Ainda até aquelas mais tristes
E pensar que não sou eu
Eu que pertenço a esta estranha tribo
Que surgiu da noite
Esta tribo de vozes caladas
Este silêncio que busca o vento calmo
O sopro das palavras
Sinto-as mágicas…
Máscaras vitoriosas contra o tempo
Pinto-as aqui neste caderno pequeno
Para que as encontrem intactas
Com restos do meu sentir…

Agora a cidade parece mais calma
Sem a penumbra do silêncio
Navego todos os dias pela mesma estrada
E todos os dias interrogo
Passo e perpasso no oculto
Caixeiros viajantes é o que somos
Para cá e para lá
Viajantes sem rumo nesta indiferença
Palavras que navegam
Não há nada como um poema
O vento toca a alma
E o Oceano acalma-se
Viajo e voo
Evoluo e vivo instintivamente