Permito-me chorar
Na esfera do dia-a-dia
No descalabro da vida virtual
Permito-me chorar por alguém que não conheço
Por alguém que morreu
Por aquela menina assassinada pelo pai
Encontrada numa mala de um carro
Porquê? Pergunto-me!
E porque sou humano
Então eu choro sem resposta
E comovido porque não entendo
Abate-se em mim uma tristeza
Uma estranha tristeza do mundo
E as lágrimas não se contêm
Escorrem simplesmente
Deixo-as cair livres
E não me importo se me vêem ou não vêem
Se me falam ou vêem falar
Há lágrimas que não devem de ser caladas
Como pode o mundo ser assim cruel?
Uma escuridão que nos rodeia
Triste é quando morre alguém
Mas quando uma criança morre…
Se ao coração cabe o amor
Então à humanidade cabe saber se é capaz
Enquanto esperamos por lentas respostas
As lágrimas podem cair
Não é proibido chorar quando se é humano
Mas com toda a triste demência que me rodeia
Talvez eu não seja humano
Talvez eu seja então de outro planeta
Porque não cabe em mim tanta tristeza